sábado, 20 de março de 2010

O santo mastro da esperança nordestina


No ultimo dia 09 de Março, Bodocó mais uma vez viveu as emoções do tradicional cortejo do pau-da-bandeira de São José, patrono da Igreja Católica e padroeiro da cidade. O evento é conhecido como a maior procissão de devotos do alto sertão Pernambucano. Milhares de fiéis percorrem as principais ruas transportando o pau-da-bandeira. O cortejo sai da fazenda Carambola, onde fica o museu da familia Puluca que há mais de 80 anos faz a doação do pau-da-bandeira, promessa feita pelo saudoso Zé Puluca ao Padroeiro São José e cuja tradição é mantida pelos filhos, netos e bisnetos. A imensa procissão realiza uma parada tradicional na casa do saudoso Miguel Roberto, patriarca da familia doadora da bandeira de São José, confeccionada pelas mão de artistas que tentam recriar a imagem semelhante a da primeira bandeira doada. Logo após a parada na praça José Gomes de Sá, o cortejo segue até a igreja Matriz, onde o Padre Gilson abençoa a bandeira e dá inicio ao novenário de São José que acontece do dia 09 a 19 de Março.
O santo que se transformou em símbolo da esperança nordestina em invernos melhores começou a receber homenagens desde a última terça-feira, nesta cidade, onde se realiza a mais tradicional festa de padroeiro do Sertão do Araripe.O momento tem um toque profano a uma festa religiosa que teve início há 85 anos.
São José foi adotado como padroeiro de Bodocó na década de 20. Embora não haja nenhuma informação concreta sobre o motivo da escolha, acredita-se no óbvio. Como o santo sempre esteve associado à época em que as chuvas devem cair com mais intensidade no Sertão, já que a sua data festiva é 19 de março, tê-lo como padroeiro significava a garantia de um inverno bom.paróquia de Bodocó. A fama de fazer chover do santo foi apregoada pelo povo e é resultado da coincidência das datas. "Já que São José era homenageado em março, adquiriu-se o hábito de recorrer a ele quando havia ameaça de estiagem".O "pau" forma como o povo do Sertão chama comumente o mastro onde é colocada a bandeira de um santo é doado desde a primeira vez que a festa foi realizada, pela família Siqueira Amorim, composta, em sua maioria, por carpinteiros e conhecida na cidade como "Puluca". Foi seu Manoel "Puluca", que resolveu procurar a maior árvore da região e levar como oferenda para São José, num ritual. Dessa época para cá, a preocupação sempre foi conseguir, a cada ano, um mastro maior e mais forte. Depois de cortada a árvore, os galhos são retirados e a madeira é pintada de branco.
O estandarte do santo só é colocado no mastro na cidade, mais exatamente na Praça José Gomes de Sá e a cada ano, o estandarte ostenta um desenho diferente. Apesar da modernidade, a festa de São José em Bodocó ainda conserva a mesma magia de antigamente. A esperada procissão começa por volta das 16h, quando um grupo de devotos dispostos suspende o madeiro e sai da Fazenda Carambola, propriedade dos "Puluca", até o centro de Bodocó, num percurso de 4km, que dura quase duas horas. A imagem gloriosa de São José segue, sob o som de músicas entoada por vozes femininas e masculinas. À sua frente, uns grupos de cavaleiros, motoqueiros e ciclistas abrem caminho para o padroeiro.  
Carregado por homens e mulheres, o mastro de São José chega ao seu destino final, defronte da Igreja Matriz, que também leva o nome do santo. Ali permanecerá até 1º de maio, quando se comemora o dia de São José Carpinteiro. Depois das festividades, o mastro, que antes era doado a pessoas pobres da região, é levado para o Museu Dona Luíza Siqueira, construído há mais cinco anos na Fazenda Carambola para guardar a memória da festa. As circunstâncias, no entanto, não indicam para um concorrido depósito de mastros de São José no local. A escassez de árvores de grande porte na região obriga a família "Puluca",  a pedir autorização ao Ibama para extrair a madeira na Floresta Nacional do Araripe.

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